É verdade, sim. O tempo não perdoa. Vai para uma semana que somei mais um aos dezoito anos da maioridade que há um ano atingira. Poderia perfeitamente ser um sinónimo de progresso na capacidade de distinguir o bom do mau gosto, o possível do impossível, a realidade do sonho, mas não. Creio que estou na mesma. E quando digo que estou na mesma, quero com isto dizer que não é evidente para mim que tenha crescido ao longo deste tempo "todo". Eu sei. Não estou a ser claro... Mas também nunca foi na clarividência das coisas e do mundo que conheço que em momento algum me revi, até porque acho que para mim nada é transparente. Nem o agir, nem o conhecimento, nem a conquista da pura amizade, nem o amor... Nem mesmo o enigma que é o ser Humano. Nem mesmo o porquê de uns nos admirarem, outros nos odiarem, outros nos preferirem a terceiros, outros nos adorarem, mas que nem assim se revelam capazes de o demonstrar. No entanto... Talvez me tenha precipitado. Talvez tenha crescido. Admito que sim. De um menino loiro de olhos azuis, tronco não muito magro e postura reguila a um rapaz de um metro e oitenta e tantos centímetros de sonhador, leal e como todos os outros Homens, sentimental e introspectivo. Fisicamente, todos acabamos por crescer. Uns mais, outros menos - culpa do metabolismo biológico que nos diferencia. E, no entanto, a bom porto chegaremos à conclusão que nada daquilo que fomos se desvaneceu. Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. - sábias palavras de Lavoisier postuladas numa época particular, mas que facilmente se mostra transportável para a contemporaneidade. E tal como a Física, também a vida é feita de postulados e premissas válidas até ao rebentar de um novo Big-Bang. A astúcia de saber acompanhar o avanço dos tempos é um desafio difícil, mas coerente para o comum mortal. Acho que tenho conseguido fazê-lo. É óbvio que hoje não passo de um "puto" ainda verde, muito verde, mas que, em certa medida, já vislumbra o mundo de uma forma diferente de há dezanove anos atrás. São muitos os que qualificam a minha geração como a da internet e dos vícios precoces, esquecendo-se, talvez, que ninguém tem o poder de ir a um supermercado e escolher o dia predilecto para vir ao mundo. Não tenho culpa de não ter ouvido o Grândola Vila Morena em Abril de '74, nem sequer de não ter sentido aquele formigueiro de nervos no ventre enquanto Armstrong pisara a Lua em '69. Assim como os que partiram antes do início do novo milénio não puderam assistir à queda das duas torres para enorme júbilo de uma infinidade de podres árabes. Mais novos ou mais velhos, todos assistimos a coisas que nos tocam de uma maneira ou de outra. A absorção daquilo que tenho visto, ouvido e sentido, fez de mim aquilo que sou hoje. Mais maturo, quiçá mais capaz de não dizer sempre "sim". Guardo em mim o sonho de chegar a um instante mais longínquo da minha viagem pela Terra, relembrar o passado e poder apontar "aquele sou eu" e não "aquele fui eu". Por muito que mude, tudo fica.