sexta-feira, 20 de março de 2009

"Livro do Desassossego"

"(...) Uns de nós estagnaram na conquista alvar do quotidiano, reles e baixos buscando o pão de cada dia, e querendo obtê-lo sem o trabalho sentido, sem a consciência do esforço, sem a nobreza do conseguimento."

"Tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espectáculo que posso. Assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, palco falso, cenário antigo, sonho criado entre jogos de luzes brandas e músicas invisíveis."

Bernardo Soares

Juro que não sei que mais poderei dizer sobre este Senhor. Palavras não chegam. Até porque chamar palavras às simples e banais letras que possa apontar sobre o que li hoje no Livro do Desassossego não poderão, em momento algum, ser postas lado a lado com as Palavras de um semi-Pessoano.

Pensamentos fragmentados, de expressão complexa, simples ideia, invadiram, de rompante, a minha cabeça.

Mas criemos com ousadia. Ousemos agora esboçar, por hipótese, que o mundo pode não ser, por instantes, aquilo que num Sonho ideal seria o oásis da vida, da paz sem sangue, da felicidade sem limites, da depressão invisível, da tristeza efémera. De forma fácil e estupidamente infame, chegamos à conclusão que há, porém, quem exista simplesmente por existir e encontre na existência, no ser, a sua única forma de assumir presença, esteja onde estiver.

Em tempo e espaço definido pelos nossos contornos, bastarão dois pés assentes no chão para viver?

Não. Viver é também existir. Existir não é viver.

1 comentário:

Anónimo disse...

lindo e de uma profundidade extrema.... não há duvida de que há aí muito boa gente a ganhar aquilo que tem sem uma pinga de esforça: Nobres Palavras de Bernado Soares


e soberba capacidade de transformar o pensamento em escrita

merito