segunda-feira, 21 de julho de 2008

Esfera Transparente - V


Indefinidamente

Em noite - creio já cerrada - escrevo cansadamente
Sem que nada de real interesse me surja.
À branca luz desta lâmpada, desperto minha mente
Para que nenhuma palavra me fuja.

Lá fora, a firme escuridão, decerto, que alimenta
A fome negra de seus fiéis seguidores.
Não são mais que lobos que a Natureza afugenta,
Poupando a pele a pobres e inocentes pastores.

Estupefacto, pergunto-me porque será esta a primeira vez
Que em papel anão grafo o que me vem à cabeça.
Letra a letra, revelo, com pouca ou nula lucidez,
O medo de que este cérebro adormeça.

Até minhas mãos vejo já com pouca clareza.
É o sono que impõe sem dó nem piedade
Seu reinado de horas breves que com frieza,
Na horizontal me delega com felicidade.

Calma! Os meus olhos ainda não fecharam...
Longe, distante, espreito o sonho a caminhar
Rumo às instâncias que não acordaram
De um sono passado que as fez pensar.

Agora, sim... É o momento de dormir...
Mais um bocejar cansado de cansaço,
Sem que antes para a Lua eu vá sorrir.
Indefinidamente, adormeci em minha cama de tom baço.
21/07/08

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Esfera Transparente - IV


Nas brumas do horizonte

Que calor, este! Céus, que ousa impor-se este fogo fino
Em frescas águas deste mar de vida e harmonia!
Na vanguarda do Sol quente, surge o destino
Que intuitivamente nos guia, ofuscando a maresia!

Por de trás de densas nuvens ardentes, viverá o Superior?
Ser supremo que do alto dos céus vislumbra sua criação:
Esfera azul, mundo de felicidade e tristeza - nobre valor
De sua grandiosa obra em nome da união!

Tal misteriosa resposta me escapa, restando os momentos
Em que, de súbito, me questiono sobre a realidade divina,
Que entre sinais, mensagens e tantos outros apontamentos,
Se presencia aqui e ali, até na Baixa Pombalina!

Caminhos maus, caminhos bons, só os conhecem quem os segue.
À superfície da consciência, está o rumo que servirá
O ultrapasse dos obstáculos do mal que nos persegue.
Nas brumas do horizonte, vosso trilho se iluminará!
17/07/08

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Um belo começo de férias

Pois ora bem, não sei se foi castigo de uma entidade superior pela minha desonestidade ou não, só sei que estou com varicela. Sim, isso mesmo, varicela. Não Sofia, não leste mal, v-a-r-i-c-e-l-a. Pois é, não tive esta doença comichosa quando era criança e agora estou com ela. Comecei por ter umas borbulhas estranhas na cara e cabeça. Uma manhã, daquelas normais estão a ver, em que uma pessoa come cereais e lê o jornal desportivo e pergunta à patroa o que é o almoço, fui à casa de banho e olho-me ao espelho e fiquei mais chocado do que o costume... Tinha a cara completamente inchada e estava cheio de borbulhas... Depois foi um médico visitar-me e confirmou as minhas suspeitas. Agora um dos tratamentos é por um creme cor de rosa no corpo e cabeça, ficando assim uma camada rosa no meu corpo e uma espécie de madeixas rosa no cabelo... Dispensava esta parte sinceramente. Não posso apanhar sol, tipo vampiro, nem posso-me coçar. Enfim, esta vida hein... Bem fico-me por aqui meus caros, espero que já tenham tido varicela na infância, porque se ainda não tiveram, é provável que venham a ter, e quanto mais velho se for, pior é.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Esfera Transparente - III


Alentejo

Incessantemente desejo o ar puro que em tom meigo me delicia.
Aquele cuja brisa clara em leve toque me envolve
No mais profundo verde de vida e harmonia,
Somente desvanecido por uma ínfima gota de água que chove.

Ao sabor do vento e por entre relva e árvores desmedidas
Vou desbravando os densos campos que em tudo se parecem
Com paraísos de culto e desejo de origens desconhecidas
Que só as almas mais íntegras merecem.

Em particular refúgio destas terras de campinos,
Sinto-me livre e de me sentir livre, livre me sinto,
Pois sei que entre mim e a Natureza, apenas três hinos
Se ouvem neste vivo e imenso labirinto.

Para mim, são como três estrelas brilhantes
Aquelas que me guiando para a vida, me confessam
Que o respirar de hoje não sendo igual ao de antes
Nos acalma os olhos, vendo as coisas como são.

Naturalmente falo da família, dos amigos, d'Ela...
Os que nem sempre estando diante de mim,
Estão sempre comigo como uma aguarela
Que dota de cor esta pintura sem fim!

Sempre que em tuas águas frescas eu não puder mergulhar
E que nem certa barragem me ilumine com sua nocturna escuridão
Doravante, a ti te peço, quem sabe ao luar:
Vem ter comigo Alentejo, terra de paixão!
08/07/08

terça-feira, 1 de julho de 2008

Esfera Transparente - II


Calor da noite


Na expressão desta minha face há um antes e um depois:
A restrita era dos livros, solitária, entre ilusões,
À qual se sucedera um sublime, mas puro instante a dois
Que em meu coração despertara um misto de sensações.

No quebrar de um quotidiano que dificilmente mudaria
O céu, seu imponente Sol ostentou, prevendo a chegada
De um verão quente, quiçá numa alegoria de magia
Entre o calor da noite e o frio da incerteza em Mim abrigada.

Por entre sereias e lagos desmedidos, deuses e nuvens ardentes,
Surgiu Aquela que nem no Olimpo, Afrodite questionara
Sobre a beleza de seus longos cabelos e lábios quentes
Que os seus conjugados humedeceram em plena ara.

E se nem seus olhos claros de verão deixam transparecer
O brilho e o encanto da água e do vento,
As estrelas respirarão mais uma vez ao anoitecer
A ternura reluzente transpirada naquele momento.

Mas não nos deixemos mover pela eterna crença
Que tal perfeição não existe nesta efémera vida
Pois a pior mentira é aquela desavença
Que nos diz que o Amor é coisa perdida.

Se por terras alentejanas a invisível seta não vos atingir,
Acreditem com fé neste mito de afectuosa união
Que tudo o que anseia é a sobeja verdade, sem mentir.
O calor da noite é sábio e sabe onde fica o coração.
01/07/08

Esfera Transparente - I

Livros

Tenho como bons os tempos em que Eu próprio
Fora somente a carne e o osso de uma personalidade
Que tão cegamente vislumbrando um conhecimento jamais abdicatório,
O sabia interpretar com incessante tranquilidade…

Dias e dias em que a manhã cedo raiava
E em que o Sol penetrando nas lamúrias ocultas dos estores
Uma mente silenciosamente adormecida, acordava,
Entre um espreguiçar e um bocejar, se semeavam suores.

Cruzando letras e números, muitos caminhos se ergueram.
A verdadeira sabedoria concretiza-se no desbravar desse labirinto
Cujos dons eruditos me permitem sentir como permaneceram
Estas cinzas de Mim que ainda hoje sussurram que não minto.

De olhos abertos ou fechados, é caminhando que se sobrevive.
Não importa como vejo, mas sim o que consigo ver:
A família sempre presente mesmo quando algum declive
Ousa estender-se nesta estrada onde o tudo que procuro é viver.

Tudo começa por ocupar uma página branca e lisa.
Lucidamente, vou construindo essas linhas que dotam de sentido
Os livros cujas palavras se emaranham na história que atiça
Os sedentos pensamentos deste meu cérebro acendido.

Dediquei-me aos livros e a eles constantemente me dedico,
Procurando a certeza na Ciência e a razão no Ser.
A mente nem sempre basta para alcançar o pico,
Pois aquilo que nos resta é saber ler.

A vida não é mais que um livro com certas páginas que não entendo
E que timidamente se amontoam, tornando-se algumas mais pretas,
Condensando em si a tenacidade de uma existência de que não me arrependo
E da qual me orgulho e vejo, sem pestanejar, que fui Eu a escolher as letras.

Sejamos sinceros para com os nossos puros e doces sentidos.
A vida está no céu, no Homem e nos carnívoros
Que vêem a erva crescer na terra, soltando seus últimos ganidos.
Afinal, há vida para além dos livros.
01/07/08