Quotidiano do «mesmo»...

Acordo. O mesmo espreguiçar lento e expansivo de outrora. Levanto-me. As mesmas dores ao nível do músculo do pé direito cujo nome desconheço. Ando tranquilamente. Os mesmos passos de quem acordou há alguns instantes (isto, após dormir algumas horas, depois de assistir a mais uma cerimónia dos Emmys algo desconcertante devido à mais que escandalosa nomeação para melhor actor de drama, que Hugh Laurie, o actor britânico que veste a bata do inigualável House, não arrecadou desta vez...). Dirijo-me à casa de banho. A mesma sanita, os mesmos rolos de papel higiénico cuja marca não vos deve interessar minimamente, mas eu digo na mesma, renova; a mesma banheira, o mesmo espelho, a mesma face reflectida, a mesma expressão, eu. Alimento-me. O mesmo copo de leite com nesquick. Visto-me. O mesmo cinto e os mesmos ténis (neste campo, felizmente, é só isto...sim, porque não sou daqueles indíviduos que vestem a mesma t-shirt, as mesmas calças, as mesmas meias, a mesma roupa íntima e sabe-se lá mais o quê, todos os dias, sem cessar...). Saio de casa. O mesmo céu nublado, as mesmas pessoas, o mesmo cheiro a pão quente vindo da pastelaria, o mesmo carteiro que entra no prédio sem me dizer um simples «Bom Dia». Bem, alguns dizem. Entro na escola. Os mesmos alunos, o mesmo barulho de fundo, os mesmos professores, os mesmos funcionários, as mesmas pastilhas elásticas biodegradadas e coladas ao chão, a mesma cara de osga à minha espera na sala 66 do pavilhão G. Regresso a casa. O mesmo pensamento do género: «amanhã, há mais». Sento-me em frente ao computador. Os mesmos atrofios, as mesmas músicas, as mesmas risadas histéricas sem nexo algum. A noite invade a tarde. Deito-me. O mesmo pensamento sobre a mesma pessoa desde há um mês e cinco dias para cá. Adormeço. O mesmo tempo para que tal aconteça e mais um dia que findou.

Acordo. O mesmo acontece e mais um dia que começou.